Como um introvertido sobrevive em um mundo de extrovertidos?

Mais um post da Virginia Barbosa 😀
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Recentemente eu li um artigo da Vanessa Barbara para o New York Times intitulado “Where Are the Brazilian Introverts?” ou “Onde estão os introvertidos brasileiros?”. Neste artigo ela cita alguns estudos sobre o tema da introversão/extroversão e também conta a sua própria experiência como uma pessoa introvertida que cresceu no Brasil, onde a extroversão é muito mais privilegiada que a introversão.
Eu me identifiquei muito com o artigo. Tal como a Vanessa, sofri muita discriminação durante boa parte da minha vida por ser introvertida. Assim como ela, eu gosto mais de ouvir e de escrever do que de falar, e trocaria a maioria das festas ou eventos por momentos de quietude.

4ever3:introverts5Sempre fui introvertida. Quando criança, no recreio do colégio, preferia sentar-me em um canto a observar os demais, sem interagir. Ainda era muito nova, talvez com 6 ou 7 anos de idade, quando um dia ouvi uma professora dizer à minha mãe: “Virginia é muito tímida. Ela precisa falar mais.”
Foi quando eu me dei conta pela primeira vez que introversão não era algo socialmente aceito. Passei a pensar então que havia algo de errado comigo e durante muitos e muitos anos tentei, sem sucesso, transformar-me em uma pessoa mais extrovertida.4ever3:introverts3Mas será que há algo de errado comigo? É óbvio que não.
Vanessa cita em seu artigo o livro Quiet: The Power of Introverts in a World That Can’t Stop Talking de Susan Cain. Em seu livro, Cain explica que hoje introversão é vista como um “traço de personalidade de segunda classe” ou até mesmo uma patologia enquanto que extroversão tornou-se um padrão opressivo ao qual todos temos que nos adaptar.
Vanessa critica a imposição da extroversão e diz que nunca diria a um extrovertido, “Você precisa socializar menos. Vá para casa e fique lá por uns dias, leia alguns livros e passe um tempo de qualidade com você mesmo. Pare de interagir todo o tempo.” Por fim, ela questiona por quê os extrovertidos se acham no direito de impor seus valores aos demais.4ever3:introverts_01Apesar de achar importante ter uma boa vida social e passar tempo com os amigos, não posso discordar do ponto de vista da Vanessa. Na minha experiência, a imposição da extroversão foi quase sempre invasiva e muitas vezes ofensiva, como se a introversão fosse um defeito inaceitável que precisasse ser corrigido a todo custo.
Ser introvertido, afinal, talvez não seja assim tão ruim. Vanessa Barbara, por exemplo, é uma das mais jovens e mais bem sucedidas escritoras do Brasil. E eu, apesar de ser muito introvertida – ou talvez por causa disso – consegui transformar-me de uma tímida criança de uma família humilde de uma pobre cidade no nordeste brasileiro, em uma mulher confiante, feliz e bem-sucedida em New York.
Consegui também, apesar da minha timidez, cultivar verdadeiros amigos que me aceitam como eu sou e sabem que podem contar comigo para toda a vida.4ever3:introverts4Talvez a questão aqui não seja apenas evitar a imposição de valores, mas sim aprender a aceitar o outro e a respeitar as diferenças. Eu acredito fortemente que a tolerância à alteridade transformaria o mundo em um lugar melhor.

Leia aqui o post anterior escrito pela Vivi.

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