A vaca e o penhasco

Adoro esse conto e sempre penso se às vezes não precisamos sacrificar algumas vacas… Eu faço isso com certa frequência na minha vida e nunca me arrependi disso. E você, já jogou a sua vaca do penhasco? (A famosa zona de conforto)

A Vaca no Penhasco

“Mestre e discípulo andavam pela estrada. O caminho era inóspito, agressivo. O ambiente não era favorável à vida. Muitas pedras e montanhas escarpadas de muito pouca vegetação. Avistaram, ao longe, uma casinha de aspecto pobre e humilde, e para lá se dirigiram.

Foram recebidos, hospitaleiramente, pelo dono da casa e sua numerosa família. Foram abrigados, e os residentes, com eles, compartilharam sua escassa comida e seu espaço para dormir. Interrogado pelo mestre, o dono da casa disse que a alimentação provinha de uma única fonte: uma única vaca da qual tiravam leite e seus subprodutos. O excedente era usado para efetuar trocas no povoado mais próximo.
Mestre e discípulo ficaram ali mais alguns dias, e depois partiram. Algumas horas depois da partida, o mestre disse ao discípulo:

– Volte lá, às escondidas, e jogue a vaca no penhasco.

Estupefato, o discípulo argumentou:

– Mestre, como podes me pedir isto? Então não percebes a pobreza de tão numerosa família, e que seu único sustento é a vaca? E, mesmo assim, pedes-me para jogá-la no penhasco?

– Sim – disse o mestre. Jogue a vaca no penhasco.

Desorientado, o discípulo decidiu atender o mestre, no entanto, não conseguia fazê-lo, sem sentir uma enorme culpa. Mesmo assim, o fez pelo mestre.
Alguns anos depois, passavam novamente pelas proximidades, o mestre e o discípulo. Sem nada dizer ao mestre, o discípulo decidiu que faria a expiação, e pediria perdão por ter jogado a vaca do penhasco. Assim, dirigiu-se até lá. Mas, quando chegou, não mais encontrou a pobre casinha em seu lugar. Havia uma construção nova e confortável. As pessoas, que avistou, eram limpas e bem vestidas, o ambiente era de trabalho, e o progresso era evidente. Foi, então, até uma das pessoas e perguntou:

– Há uns dois ou três anos, aqui havia uma pequena e pobre casinha. Saberia me dizer para onde foram aquelas pessoas?

– Somos nós – respondeu o homem.

– Não, refiro-me àquelas pessoas pobres que aqui viviam.

– Somos nós – respondeu ele, novamente.

– Mas, o que aconteceu? – disse, olhando o progresso a sua volta.

– Bem – disse o homem. Aconteceu, numa noite, um terrível acidente, em que nossa vaca, nossa única vaca, caiu do penhasco, e ficamos sem nossa fonte de sustento. Não tivemos outra alternativa, então, a não ser buscar trabalho. Descobrimos, então, nossas próprias capacidades, e as potencializamos. Como resultado, temos hoje uma bonita e confortável casa”.

Um mestre pode saber além da percepção do que está a nossa frente. Por isso, já sabia o que se desencadearia ao mandar jogar a vaca do penhasco. Já o discípulo, nada pode ver ainda, a não ser o que está diretamente a sua frente. Por isto, somente viu o infortúnio daquelas pessoas. O infortúnio é imediato. O infortúnio é transitório.

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