Post da Virginia LanghammerHá algumas semanas, minha professora de non- fiction creative writing me pediu para pensar sobre acontecimentos importantes que tenham mudado a minha vida de alguma forma. Em um lapso de segundo dezenas de imagens e momentos passaram pela minha cabeça. Eu me vi criança brincando com meus primos e comendo manga na casa da minha avó, em Teresina. Eu me vi migrando ao Sul com minha mãe e meus irmãos quando tinha apenas 11 anos de idade. Eu me vi começando a praticar o DeRose Method quando tinha 18 anos. Eu me vi mudando-me para Buenos Aires, depois para São Paulo, depois para New York. Eu me vi segurando meu buquê de flores brancas no dia do meu casamento.
Minha professora, então, interrompeu meus pensamentos e disse: “Agora, escolha um momento apenas, aquele momento quando tudo mudou, e escreva sobre ele.”
Fiquei alguns minutos olhando para a tela branca do Word em meu laptop sem escrever uma linha. Como escolher um entre todos os momentos marcantes em minha vida? Então, por alguma razão que não sei bem explicar, eu me senti impelida a escrever sobre outro acontecimento, diferente de todos aqueles que tinha pensado. Algo que talvez para muitos pareça trivial ou até mesmo bobo, mas que para mim tem valor inestimável. Em maio de 2008 eu adotei o meu cachorrinho Wilson e minha vida nunca mais foi a mesma.
Eu morava em São Paulo em um pequeno apartamento na Alameda Jaú, logo em frente ao meu trabalho, no bonito bairro dos Jardins. Sempre que possível, viajava com meus amigos Fernanda e DeRose para participar de cursos e eventos em outras cidades e países. Foi voltando de uma dessas viagens, mais precisamente de Buenos Aires, que encontramos o Wilson dentro do aeroporto de Guarulhos, o maior aeroporto de São Paulo.
Fernanda, DeRose e eu estávamos a caminho do estacionamento quando vimos, com surpresa, um cachorrinho fofo e simpático, pulando e saltitando pelos corredores do aeroporto. DeRose lhe fez um cafuné, e logo ele começou a nos seguir na esperança de ganhar mais carinho ou comida. Perguntamos ao segurança o que aquele cachorrinho fazia ali, e ele nos respondeu: “Não sei, mas ele não pode ficar aqui. Já o coloquei para fora algumas vezes, mas ele continua voltando. Vou ter que colocá-lo lá fora de novo.”
Foi quando meu amigo DeRose respondeu:”Não. Pode deixar que nós vamos levá-lo conosco.”
E depois DeRose pegou aquele serzinho todo sujo e maltrapilho no colo e o levou até o nosso carro.
Entregamos o Wilson aos cuidados de um amigo veterinário para fazer um check-up. Enquanto isso, nós tínhamos uma missão a cumprir: encontrar um humano de bom coração que quisesse adotar um cachorrinho.
Naquela noite eu cheguei em casa, desfiz as malas, tomei banho e me deitei para dormir com o coração apertado e apenas uma coisa em minha mente: e se eu fosse aquele humano? Tentei me convencer com vários argumentos de que não era uma boa ideia, pois eu trabalhava o dia inteiro, pois o meu apartamento era muito pequeno, pois ele iria destruir minhas coisas, pois eu não teria com quem deixá-lo para ir viajar, pois… Nada importava. Eu estava apaixonada e sabia disso.
Poucos dias depois Wilson se mudou ao seu novo apartamento. No começo, tanto eu quanto ele tivemos que nos adaptar à nossa nova vida. Ele tinha que aprender a viver “em sociedade” e eu tinha que aprender a ser “mãe”.
Uma semana depois de ele se mudar, tivemos a nossa primeira briga. Eu tentei treiná-lo a parar de rosnar aos vizinhos. Ele mordeu minha mão. Eu gritei com ele. Depois os dois ficamos tristes e fomos cada um para um canto por umas duas horas. Mais tarde, fizemos as pazes. O seu olhar de desculpas era tão perceptível quanto qualquer palavra que pudesse ser dita. Com a mão machucada, mas o coração aquecido, eu percebi que poderíamos superar tudo juntos.
Como uma boa “mãe de primeira viagem”, eu tentei impor algumas regras. No começo, ele podia ficar na sala, mas não podia subir no sofá. Depois ele podia subir no sofá, mas não podia entrar no quarto. Depois ele podia entrar no quarto, mas não podia subir na cama. Depois ele podia subir na cama, mas só no”pezinho”. Até que um dia acordei toda torta com ele dormindo esparramado em meu travesseiro. Mas eu não me incomodei. À medida que ele foi ganhando espaço na casa, ele foi também conquistando mais espaço em meu coração.
No início eu era muito ríspida, com a desculpa de que era preciso educá-lo bem. Mesmo sem entender bem o porquê, ele se sempre se esforçou a aprender todos os comandos que ensinei, e ficava feliz quando acertava, pois percebia que isso me deixava feliz. Mesmo quando levava bronca, ele me olhava com aquele olharzinho doce como se estivesse a dizer, “Desculpa! Eu te amo!” Pouco a pouco aprendi a ser mais tolerante. Aprendi a dar menos importância a pequenos detalhes e a dar mais valor aos momentos que passávamos juntos. Aprendi que mais importante que impor obediência é fazê-lo feliz.
Eventualmente, em tom de brincadeira, me refiro a ele como um “filho”. Mas, brincadeiras à parte, muitas vezes a sensação é essa mesmo. Eu escovo seus dentes todos os dias. Cozinho comida caseira, saudável e balanceada. Levo-o a passeios no parque para brincar com amigos. Compro brinquedos. Tomo os brinquedos se ele se comportar mal. Educo incansavelmente. Dou bronca. Peço desculpas. Levo ao médico se ele tem uma simples tosse. Fico sem dormir se ele está doente. Gasto uma fortuna quando preciso. Passo o dia pensando nele se está sozinho em casa. Dou banho e corto o cabelo (na verdade o Rob faz esses dois últimos e ainda boa parte dos itens dessa lista).
Um dia uma amiga que tinha tido filho recentemente me disse que amor de mãe é muito superior ao amor que temos aos nossos “filhos peludos”. Eu entendo o que ela quis dizer, e concordo que não há amor maior que o amor de mãe, mas eu confesso que não vejo as coisas da mesma forma. Eu acredito sim que o amor ao um”filho peludo” pode ser tão grande e tão forte quanto o amor a um filho humano. Talvez nós humanos apenas ainda não aprendemos a aceitar que um animal possa ser tão amado quanto um ser humano.
Provavelmente, eu nunca poderei confirmar se estou certa ou errada sobre isso, já que Rob e eu não planejamos ter filhos. Mas não importa. Eu não preciso estar “certa” para ter certeza de que o amor que sinto pelo meu “filho peludo” é o mais puro amor que já senti.
Quer conhecer melhor o Wilson? Leia este post.
Até eu estou vendido ao Wilson já! Sinto falta de ficar com ele quando vcs viajam!!! 🙂
Aposto que o Wilson também sente falta de ti 🙂
Beijossss!
Ownnnnnn ele é lindoooooo!
Parabéns põe cuidar tão bem dele e de sentir tanto amor….
Tenho certeza, que ele sente o mesmo por você e é muito agradecido por tê-lo tirado das ruas.
Vou te dizer uma coisa: Sou mãe de uma garotinha humana e fui mãe também de um garotinho peludo que também adotei em 2008…. E O AMOR E IGUAL!!!!
Muito obrigada, Estela! Fiquei feliz em saber que na sua experiência o amor pelos filhos peludos é tão grande quanto o amor pelos filhos humanos. Obrigada por compartilhar! =D
Um abraço!