Vende-se tudo

Mais um post que eu encontrei publicado pela querida Ju Marra. Talvez tenha ecoado no meu coração porque eu estou exatamente nessa fase de mudar e me desapegar de tudo e realmente construir uma vida nova, mas talvez por termos passado por essa situação muitas vezes quando éramos crianças. Você imagina que eu nasci em SP, mas na altura minha família morava em Jaguariaíva, no interior do Paraná. De lá nos mudamos para Rio Claro, onde vivemos em 2 casas. Então, Fortaleza, onde também vivemos em 2 casas. De lá, como se não desse para ser mais para cima, fomos para São Luiz, no Maranhão, onde também moramos em 2 casas e de lá, ainda, para Blumenau e, adivinha? Mais 2 casas, hahaha! Aos 16 anos fui morar em SP, onde vivi em 4 casas diferentes, mas também onde passei mais tempo. Foram 22 anos  “na melhor cidade da América do Sul”, como diria Caetano 😀
Minha mãe sempre foi do grupo do descarte, e acho que herdei isso dela. Provavelmente por isso tive tanta facilidade em vir para NY apenas com 2 malas e o resto vou trazendo aos poucos, conforme for sendo necessário, ou me dá a louca e deixo tudo por lá mesmo. Vamos ver…
Espero que você goste deste texto e ele te ajude a deixar para trás tudo o que não for realmente importante…

VENDE-SE TUDO
No mural do colégio da minha filha encontrei um cartaz escrito por uma mãe, avisando que estava vendendo tudo o que ela tinha em casa, pois a família voltaria a morar nos Estados Unidos. O cartaz dava o endereço do bazar e o horário de atendimento.
Outra mãe que estava ao meu lado comentou:
– Que coisa triste ter que vender tudo que se tem.
– Não é não, respondi, já passei por isso e é uma lição de vida.
Morei uma época no Chile e, na hora de voltar ao Brasil, trouxe comigo apenas umas poucas gravuras, uns livros e uns tapetes.
O resto, eu vendi tudo, e por tudo entenda-se: fogão, camas, louça, liquidificador, sala de jantar, aparelho de som, tudo o que compõe uma casa.
Como eu não conhecia muita gente na cidade, meu marido anunciou o bazar no seu local de trabalho e esperamos sentados que alguém a parecesse. Sentados no chão.
O sofá foi o primeiro que se foi. Às vezes o interfone tocava às 11 da noite, era alguém que tinha ouvido comentar que ali estava se vendendo uma estante.
Eu convidava pra subir e em dez minutos negociávamos um belo desconto. Além disso, eu sempre dava um abridor de vinho ou um saleiro de brinde, e lá se iam meus móveis e minhas bugigangas.
Um troço maluco: estranhos entravam na minha casa e desfalcavam o meu lar, que a cada dia ficava mais nu.
No penúltimo dia, ficamos somente com o colchão no chão, a geladeira e a tevê.
No último, só com o colchão, que o zelador comprou e, compreensivo, topou esperar a gente ir embora antes de buscar. Ganhou de brinde os travesseiros.
Guardo esses últimos dias no Chile como o momento da minha vida em que aprendi a irrelevância de quase tudo o que é material. Nunca mais me apeguei a nada que não tivesse valor afetivo.
Deixei de lado o zelo excessivo por coisas que foram feitas apenas para se usar, e não para se amar. Hoje me desfaço com facilidade de objetos, enquanto isto, que se torna cada vez mais difícil me afastar de pessoas que são ou foram importantes, não importa o tempo que elas estiveram presentes na minha vida.
Desejo para essa mulher, que está vendendo suas coisas para voltar aos Estados Unidos, a mesma emoção que tive na minha última noite no Chile. Dormimos no mesmo colchão, eu, meu marido e minha filha, que na época tinha dois anos de idade. As roupas já estavam guardadas nas malas. Fazia muito frio.
Ao acordarmos, uma vizinha simpática nos ofereceu o café da manhã, já que não tínhamos nem uma xícara em casa.
Fomos embora carregando apenas o que havíamos vivido, levando as emoções todas: nenhuma recordação foi vendida ou entregue como brinde.
Não pagamos excesso de bagagem e chegamos aqui com outro tipo de leveza:
“Só possuímos na vida o que dela pudermos levar ao partir”. É melhor refletir e começar a trabalhar o DESAPEGO JÁ!
Não são as coisas que possuímos ou compramos que representam riqueza, plenitude e felicidade.
São os momentos especiais que não tem preço, as pessoas que estão próximas da gente e que nos amam, a saúde, os amigos que escolhemos, a nossa paz de espírito.
Texto de Martha Medeiros

Veja também este texto sobre mudanças 😀

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