Esta é mais uma história pessoal minha, que vou dividir com vocês, porque foi uma vitória importante para mim. E quando conquistamos coisas, precisamos dividi-las com os amigos!
Como as pessoas mais próximas sabem, eu sempre digo que sou a pessoa mais sortuda do mundo. Para mim tudo dá certo, sempre! É tipo uma paranormalidade que eu tenho, hahaha, tudo funciona, sempre!
Eu sempre ganho sorteio, sempre consigo o que quero, sempre acho vaga na rua, nunca perco nada! Nunca na minha vida fui roubada! Já até entraram na minha casa, mas não levaram nada meu, só as coisas do meu irmão, porque a lâmpada do meu quarto estava queimada, hehe!
Pois bem, isso lembrado, conto a vocês que existe aqui no nosso bairro um rapaz, morador de rua, e dependente químico há muitos anos. E muitas vezes ele já me deu uns sustos. Tipo, o cara é drogadão, é meio violento, é bem estranho.
E eu vejo esse cara muitas vezes! A Mari até ficava impressionada, porque nunca encontrava com ele. Saíamos juntas, para onde fosse, ele aparecia!
A primeira vez foi há 20 anos, estava com um amigo comendo algo em um lugar que se chamava Casa do Padeiro. Ele entrou e com aquele tom de voz agressivo disse: paga uma comida pra mim, eu tô com fome! E nós pagamos. E isso aconteceu mais vezes. Um dia eu estava na padoca da esquina e ele veio me pedir comida. Eu dei comida para ele. Comida não se nega a ninguém!
Outra vez estava na PAO e ele apareceu, entrou no café e só saiu quando deram algo para ele comer. Ele anda sempre descalço, muitas vezes sem camisa, e com aquele olhar que não sabemos se temos mais medo ou dó!
Uma vez, a Mari estava grávida e nós fomos ao Mundo Verde comprar alguma coisa e ele entrou, e foi no caixa falando para as vendedoras darem algo para ele comer. Sempre assim.
Outra vez eu estava na feira e ele apareceu lá na barraca de pastel, e sei lá o que aconteceu, ele começou a discutir com uma cliente. Se não tivesse ido um monte de gente para cima do cara, a coisa estaria feia para ela, pois essas pessoas não tem muita noção de força e de risco. Na verdade, não têm muito o que perder também!
Esses dias estava entrando na garagem para ir para a Jaú. Nós normalmente estacionamos o carro no prédio em frente, atravessamos a rua e entramos na escola. Quando eu embiquei no portão, quem estava lá? O nosso amigo, que merecia ter os genes congelados para estudo, tamanha sua resistência! Ele estava parado exatamente onde eu precisava passar para entrar na escola, eu teria que pedir licença para poder sair pelo portão!
Comecei a pensar no que faria para resolver isso. Poderia esperar até ele sair, poderia não ir para a escola, apesar de já estar em cima da hora para um compromisso, poderia pedir para alguém me ajudar… mas decidi encarar. Eu precisava passar por cima desse desconforto que o rapaz me causa.
Tive uma ideia genial. Guardei o celular no bolso da calça, a bolsa pendurada em um ombro, a chave da escola na mesma mão e uma nota de dez reais na outra mão. Daí eu daria o dinheiro para ele e pronto. Situação resolvida.
Quando cheguei no portão e o porteiro do prédio abriu, vi que ele não estava mais ali, mas a uns 10 metros, sentado na calçada. Fiquei com muita pena dele, daquela situação toda, da qual ele é, na verdade, a maior vítima. Fui lá junto a ele, dei os 10 reais e disse: é pra comprar comida e não gastar com besteira hein?
E ele me olhou super assustado, não esperava ganhar dinheiro assim tão fácil e me disse: Oh, senhora, muito obrigado, pode deixar!
E pronto, resolvi a minha situação com ele.
O mais importante disso tudo na minha opinião, foi me superar em relação a esse sentimento. Não podemos permitir que os outros coloquem em nós os seus sentimentos. Se alguém tem algum sentimento ruim em relação ao mundo ou a mim, esse sentimento pertence a essa pessoa. Cabe a nós escolhermos se vamos ou não compartilhar disso.
Quantas vezes alguém diz: “O fulano não gosta de você” e nós passamos automaticamente a não gostar daquela pessoa, por nada! Eu hoje já aprendi a pensar: Que pena. Eu não fiz nada para que ele não gostasse de mim, então esse é um problema dele e não meu. E sigo a minha vida, sem me identificar com aquele sentimento que pertence a outra pessoa e que na verdade não me acrescenta em nada!