Poesia Na Voz

Não sabia que gostava tanto de ouvir poesia declamada. E descobri que adoro.
Este áudio da Dra. Maria Barroso a dizer o poema “Os dois sonetos de amor da Hora Triste” de Álvaro Feijó é simplesmente sublime e imperdível. E muito simbólico, já que foi passado no funeral do marido.
Espero que goste e um beijinho.

Os dois sonetos de amor da Hora Triste
“Quando eu morrer – e hei de morrer primeiro
Do que tu – não deixes de fechar-me os olhos
Meu Amor. Continua a espelhar-te nos meus olhos
E ver-te-ás de corpo inteiro.

Como quando sorrias no meu colo.
E, ao veres que tenho toda a tua imagem
Dentro de mim, se, então, tiveres coragem,
Fecha-me os olhos com um beijo.

(Eu, Marco Póli)
Farei a nebulosa travessia
E o rastro da minha barca
Segui-los-á em pensamento.
Abarca

Nele o mar inteiro, o porto, a ria…
E, se me vires chegar ao cais dos céus,
Ver-me-ás, debruçado sobre as ondas, para dizer-te adeus,

II

Não um adeus distante
Ou um adeus de quem não torna cá,
Nem espera tornar. Um adeus de até já,
Como a alguém que se espera a cada instante.

Que eu voltarei. Eu sei que hei de voltar
De novo para ti, no mesmo barco
Sem remos e sem velas, pelo charco
Azul do céu, cansado de lá estar.

E viverei em ti como um eflúvio, uma recordação.
E não quero que chores para fora,
Amor, que tu bem sabes que quem chora

Assim, mente. E, se quiseres partir e o coração
To peça, diz-mo. A travessia é longa… Não atino
Talvez na rota. Que nos importa, aos dois, ir sem destino?”
Álvaro Feijó

 

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